MALES DE MIM
Dizes que eu te parto em dois
e atiro ladeira abaixo
os teus mais meninos desejos.
Dizes que sou a mulher má
e arranco de tua boca
as palavras tortas.
Reclamas que não te entendo,
e te escravizo com pouco.
Cobras de mim uma candura
que nem sei de onde posso tirar.
Não sou com quem sonhaste
e, no entanto, tentas
me converter em tua realidade.
Brigamos.
Ferimos um ao outro.
Calamos por dias e dias.
E voltamos a nos abrasar
mutuamente
até depois de amanhã.
Como podes dizer que me ama
se enxergas em mim
tão clamorosas falhas?
Eu te faço desviar
da estrada da virtude:
por que permaneces ao meu lado?
E se não digo que te amo
tu te sentes
o mais abandonado.
E se me dizes o quanto queres
ficar a madrugada comigo,
esperas que eu
me abra como a flor ao sol.
Mas não te digo nada,
apenas afago a faca que me apontas
e beijo sem paixão
o teu rosto infiel.
Mas sabes, de um jeito pleno,
que eu, se isso não fizer, morro.
Por que me condenas
se não consigo te odiar?
Por que sofres por
não poderes me deixar?
Guerreiros, guerreamos.
No fim da luta renhida,
como bandeira imensa,
paira sobre nós
a verdadeira paz.