A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a Lua (...)
(Newton Teixeira / Jorge Faraj)
 
Olhos pra mim...



Na minha rua mora um deus,
inacessível, distante...
Quando saio a fazer compras
e passo, rente à janela,
minha alma tem delírios...
Tão belo porte ele tem,
enquadrado qual em tela,
com sua camisa azul.
Esse deus, tão puro e casto
não olha pra mim sequer
uma vez, com atenção.
Por ele arrasto uma asa,
mas a casa, no caminho,
é castelo encouraçado...
E o rapaz, amorenado,
não liga pra mim, não vê
as dores que me consomem;
afinal, ele é o homem,
objeto do desejo
e vive num pedestal,
cortejado e adorado
e pode escolher quem quer.

Quando a Lua, lá no céu,
faz gracejo e escarcéu,
eis que ela apenas procura
do deus, alguma atenção.
...Mas eu que não tenho brilho,
perdida aqui nesse trilho,
reconheço o meu lugar,
pois não tem olhos pra mim
quem no mundo tem, sem fim,
toda a pompa e circunstância.

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