FRUSTRAÇÃO

Nas escadarias do cinema eu lhe encontrei.

Soluços intensos sacolejavam seus ombros alvos.

Um vestido longo, vermelho, se abria e revelava uma coxa linda.

Sua cabeça dobrada lhe escondia as faces entre as mãos delicadas.

Devagar eu me aproximei.

Meu auxílio lhe ofereci.

Uma negativa muda recebi nesse instante.

Mesmo assim sentei-me ao seu lado.

Meu ombro serviu de apoio ao seu pranto incontido.

Minha camisa de seda branca, empapada de lágrimas ficou.

Sem querer toquei seu rosto lívido e molhado.

Seu perfume suave me inebriou.

Num instante, me vi sorvendo seus lábios finos, mornos e rubros.

Uma paixão me envolveu a alma.

Um excitamento desenfreado e repentino tomou conta de mim.

Gritos vindos do Cristo me feriram os ouvidos.

Gritos de júbilo se calaram em minha garganta.

Que paradoxo estranho é esse?

Se me entristeço com cenas do filme,

O que me alegra a alma?

Um ser inconveniente aparece em cena.

Delicadamente ele toca seus ombros.

Um rosto conhecido me surpreende a visão.

Um forte desejo de esmurrá-lo, me dilacera a alma.

O sonho que era tão lindo vira pesadelo.

Suando a cântaros eu acordo irritado.

Gilberto Feliciano de Oliveira
Enviado por Gilberto Feliciano de Oliveira em 07/05/2006
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