Como Fêmea
Com os olhos cobro a dívida
que meu coração reclama
ao palpitar forte
quando chegas a mim
e se me fitas com desprezo
por saber que tanto amo
me digas então o que faço
para esquecer teu cheiro
que, como fêmea, o olfato clama
e desperta o querer insano
de lamber teu rosto,
mordiscar teu peito
enroscar teu corpo
e num permanente cio
esperar que cumpras, como outrora,
o papel de macho dominador,
e apagues, num ato , imediato,
todo fogo que de mim se expande
com o desejo de sentir ainda
a febre louca desse querer
esquecendo assim, o amanhã,
quando, sem doçura ou emoção
se afastarás de mim, cruel,
e com vagar, cuidadosamente,
irás em busca de nova boca, novo querer
e esmagada em novo silêncio
suspirarei, submissa a este amor
nas lembranças que não me deixam
na realidade do fim.