Cronologia de uma paixão

Prólogo:

Corações vazios sem paixão

são fúteis, leves

travesseiros de penas

nada mais

Do contrário não, porque o amor não é leve, frugal

pesa feito chumbo no peito

o corpo o arrasta como corrente

atada ao pé de um condenado

Mas não é mau

estorvo

incomoda

por bem

horas antes:

Dois corações vazios se atraem

não é lei física. É emocional

também fecundam-se

procriação sentimental

O feto da paixão se avoluma

a cada compasso do coração

a gestação dos grávidos é aflita

Sintomas da realidade prenhe:

aos encontros e pensamentos

narinas expirando fortes suspiros

olhos faiscando centelhas de ansiedade e ternura

o parto:

A paixão foi súbida

a parição deu-se num beijo

comemoraram. Dançaram

suaram muito

O amor chegou inconfesso

mas não veio parvo

surgiu de tal maneira grande

que tomou todo o espaço à volta

fez seu templo ali

O lugar era parco

o amor incontido

por isso sairam para o tempo

único lugar cabível

minutos depois:

Passaram inenarráveis

aos olhares de brilho mágico

à troca de energias

grandes descargas pelas mãos e lábios

Tal era o clarão das auras

que quem está nessa dimensão

vizinha dos que não amam

pode vê-los cintilar todo o éter

primeiras palavras:

inoportunas, inúteis, injustificáveis e doces

a paixão devora as palavras como sanduiches

o silêncio é mais eloquente

confissão:

Ridícula como são os amantes

embaraçosa, mas emocionante

Paixão inconfessada fica pagã

vaga pelo limbo dos amores perdidos

encontros:

Clandestinos, todos!

a paixão era proibida e virou mércia

ficou madura demais

para a virgindade que tivessem

neste ato o amor penetrou por todos os orifícios

Apenas as paredes escutaram

os sussurros dos coitos galopantes

e os espelhos viram

a nudez linda dos corpos

Epílogo:

Já está no fim a história

mas o amor não cessa

uma vez a luz (deles) clareou o firmamento

mais claro que a aurora e viram o eterno

Então souberam

que o eterno

é a medida da intensidade

do seu amor