Amargo Vício

Da janela, pensativa,

olho o tempo que - em vôos ,

se esvaí na lentidão dos loucos

e a presteza dos amantes.

Onde estará aquele amor

que um dia foi meu

e, sem que percebesse, morreu

na morna passagem dos dias

Procuro enxergar em mim

traços do que fui um dia

e encontro uma alma fria

sem tormentos da paixão

O que houve com nós dois

que planejamos vida dividida

e agora, com alma doída

sigo só, em passos tristes

num pranto solitário,

em busca do amanhecer

lutando pra não ceder

ao desejo de mais uma vez

me atirar ao amargo vício

de ser amada nem que seja

pelo ínfimo e passageiro instante

que dura seu beijo e seu prazer.