Ontem

Por que não joga fora

este retrato em que sorrio

a rolha do vinho aberto

o programa do teatro ?

Por que guarda os acordes de música

meu sapato da última festa

os lençóis que me cobriram à noite

a toalha que enrolei meu corpo ?

Varre a casa, espane as lembranças

sacuda o pó do ontem

acenda a luz, volte a sorrir

e tente viver mais uma vez.

Trago-o com carinho, junto ao peito

como alguém a quem muito amei

mas que vive enrodilhado

nos laços de um passado injusto

Não posso jamais esquecer-lo

faz parte de meu sentir

mas o que foi nunca será

e é lamentando que digo:

já não sou seu pedaço da maçã.