Por que o amor?
Por que tamanha necessidade de amar
De vestir paixão, adornar de êxtase,
por que a ventura nesse atalho obscuro
que mexe com a vida, o destino, a natureza, o outro,
que levita e faz levitar?
Por que essa fagulha que ascende e respinga
queimando a aura, aflorando a pele,
provocando enchentes incontáveis de endorfinas e suspiros
conduzem ansiedade, medo, saudades e exilam a razão
fazendo-nos tolos aos adultos olhares?
Por que esse sentimento latente que explode sem direção
criando imagens e sons, vagando ao encontro de um ser ideal
sem perceber-lhe a face, os desígnios, as intenções,
idealizando um momento augusto que talvez nem se faça,
e por si só já se fez pela turbação?
Por que temos que passar por essas sensações
que às vezes nos renovam, às vezes nos sepultam,
das quais não queremos nem podemos nos furtar,
posto que se instalam e por vezes nos invadem
como abusivos seres sem antígenos?
Por que queremos esse sentimento que acaba sem fim,
atormenta-nos, consome nossa razão,
surpreende até a capacidade de discernir,
invoca-nos e por muitas vezes, até nos destrói?
Quem sabe? Escapa à competência da pesquisa,
da moral, do que é humano
assenta-se freqüência paralela que não nos é dado dominar...
Talvez habite no desejo de acharmos nossa completude,
de vivermos sem as dores da alma,
de chegarmos à felicidade
e felicidade não se vislumbra numa busca solitária,
talvez aí resida o porquê.