Monólogo de um coração perdido
Um comprimido para dormir,
uma forma qualquer para acordar
e dilatar os horizontes –
e ainda mais: para não voltar
a ser quem nunca fui
de fato – colorindo o retrato
em preto-e-branco pendurado
na parede da vida
tão rica de despedidas
e pobre em alternativas.
Um amor, por favor, um amor
para terminar comigo
e aumentar o caos que vai
da boca ao umbigo.
Uma paixão tão pura, ou puta,
que traga a luz à escura
madrugada que me afaga
a face esquerda e se prepara
para esbofetear
a contrária direção.
Um relógio, um calendário,
caleidoscópio, itinerário,
uma solução lícita para
a dor que paira sobre o meu
coração.