Por não saber Ficar... *

Elas viajavam em lombos de barcos

E burros à velocidade da escuridão

Porque os recursos eram muito parcos

Aos nobres carregadores de solidão

Que para unir as Almas se doavam

Tomando para si as penas dos sozinhos

Muitos as próprias vidas entregavam

Para unir os humanos caminhos

Ah! Como essas Cartas eram belas

Que viajavam entre os matos e feras

E apesar dos meses de demora delas

Nem eram tão longas as esperas

Levadas pelos Ginetes e Barqueiros

Ambos cumprindo a missão de Carteiros

Nos papéis de veículos e Condutores

Levavam esperanças de eternos Amores

Hoje elas não vivem mais as Cartinhas.

Escritas sob luzes de velas bruxuleantes

À mão e penas nem que fossem de galinha

Derramando as ânsias dos Amantes

Essas Cartas nunca eram mentirosas

Porque as caligrafias poderosas

Denunciavam através dos traços

E da uniformidade dos espaços

Além da profundidade das palavras

E pela musicalidade em mil oitavas

A firmeza e a verdade dos propósitos.

Dando fé à sinceridade dos depósitos

Que traziam as palavras dependuradas

Nas linhas dos coloridos varais vocabulares

Que eram deitados nas gavetas seculares

Roupas das Almas elas dormiam amareladas

Ah! Como eu gostaria de poder voltar

Àquele tempo em que se sabia Amar

Fugindo das luzes iludidias do ficar

Que nos deletam antes de salvar.

Como me deliciaria confessar à minha vida

Não através desta pena que pinga letras de dor.

Mas sim por uma de Condor pena perdida

Que emprestasse asas à minha Cartinha de Amor

Pois hoje apesar de contarmos com mais dedos

Mulas e barcos diferentes que chegam mais cedo

Pelos Carteiros que viajam à velocidade da luz

Para receber uma resposta é uma verdadeira cruz.

Será que os avanços do conhecimento

Que seriam para avivar os sentimentos

Servem para das máquinas nos aproximar

E de nós mesmos humanos afastar?

Será que o Amor está para sempre extinto

E este sentimento anacrônico que sinto

Não encontrando mais onde se agasalhar

Terá que partir por não aprender a “ficar”?

Aldo Urruth
Enviado por Aldo Urruth em 10/05/2009
Reeditado em 11/05/2012
Código do texto: T1585626
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