quimera
Senta-te aqui, ao meu lado, não precisas dizer nada
Nada precisamos fingir, senão deixar que a chuva
Encharque e purifique as nossas almas despidas
Vês aquela árvore florida?!
Que vai e vem à melodia da brisa?!
Um dia, fora apenas uma semente
Amanhã, em seu lugar, erguer-se-á um monumento
E ninguém mais há de lembrar a sua existência
Entrelacemos as mãos, enquanto as temos
A vida, como o vento, a chuva, a árvore...
É única e eterna, na brevidade do seu tempo
Sintamos o cheiro suave da terra molhada
Brindemos com a inconstância
Os nossos gozos inacabados
E com o silêncio, a mentira desse instante
Pois, tudo o que somos, sentimos ou tocamos
É apenas ilusão, a vívida ilusão dos nossos sonhos
Corporificada no delírio existencial de cada ser
A chuva vai passar, logo se fará noite
As estrelas encherão de luz as nossas retinas
E nos farão acreditar na possibilidade do existir
Porém, tudo o que foi, não mais será
Senão remotas lembranças da nossa saudade
Na sua marcha em vão, ao encontro do nada.