quimera

Senta-te aqui, ao meu lado, não precisas dizer nada

Nada precisamos fingir, senão deixar que a chuva

Encharque e purifique as nossas almas despidas

Vês aquela árvore florida?!

Que vai e vem à melodia da brisa?!

Um dia, fora apenas uma semente

Amanhã, em seu lugar, erguer-se-á um monumento

E ninguém mais há de lembrar a sua existência

Entrelacemos as mãos, enquanto as temos

A vida, como o vento, a chuva, a árvore...

É única e eterna, na brevidade do seu tempo

Sintamos o cheiro suave da terra molhada

Brindemos com a inconstância

Os nossos gozos inacabados

E com o silêncio, a mentira desse instante

Pois, tudo o que somos, sentimos ou tocamos

É apenas ilusão, a vívida ilusão dos nossos sonhos

Corporificada no delírio existencial de cada ser

A chuva vai passar, logo se fará noite

As estrelas encherão de luz as nossas retinas

E nos farão acreditar na possibilidade do existir

Porém, tudo o que foi, não mais será

Senão remotas lembranças da nossa saudade

Na sua marcha em vão, ao encontro do nada.

João Nery Pestana
Enviado por João Nery Pestana em 19/05/2006
Código do texto: T159052