O PESCADOR DE SEREIAS

Quem me dera ser uma pequena canoa,

Dessas que vivem em ondas, em alto mar,

Sacolejando viver como se vivesse atoa,

Entre o desejo de ser peixe e o de pescar...

Na ponta da praia te ver, bela sereia,

Molhando o corpo, bela escultura nua,

Viria eu na correnteza sobre a areia,

Beijar teus pés, tocar-te os seios,

Como te toca a lua...

E finda a noite de solidão e desejo,

Em que me perco em vagos desvarios,

Embora iria todo esse antigo medo,

Torpor de prazer a derreter o frio...

E quem passasse em nau devagarinho,

E pressentisse o fogo do amor,

Já nos veria em trocas de carinho,

Linda sereia, e eu, seu pescador.