UMA HISTÓRIA DE AMOR DE MÃE E FILHA

por Regilene Rodrigues Neves

O nosso poema

Está todo esse tempo no meu peito

Às vezes cheio de amor

Outras vezes cheio de mágoas

Numa barreira muitas vezes intransponível

De um lado meus sentimentos presos

No teu lado cheio de orgulho

Enchendo-me de incertezas e medos

Quantas vezes sonhei com o teu colo

Numa lembrança da minha infância

Voltei lá no teu ventre para me abrigar

Quis recomeçar concertar

Esse caminho dilacerado de dores

Que nos separou...

Carências minhas

Multiplicaram-se num amor

Misturado de pai e mãe!

Cresci construindo sonhos

Perfeitos de nós duas

Alimentei nosso amor

De mãe e filha

Fiz de ti meu espelho

Refletindo garra força e coragem

Para que eu também pudesse vencer...

Sobrevivi quando a vida

Parecia se esvair de mim

Queria continuar acertar nossas diferenças

Para um dia cheia de amor te abraçar...

Meu amor ficou frágil e sensível

Ganhei asas de poeta para voar

Além desse lugar

Que me impediu de te abraçar

Fiz dele poesias soltas no ar...

Trago o beijo na tua face

Nos meus lábios,

Mas ainda trago meus medos da infância

Um dia sem querer rejeitou o meu abraço

Naquela criança

Ele cresceu em forma de rejeição

Nunca mais fui à mesma menina

Que apenas procurava carinho de mãe...

Sei que não teve culpa

Apenas eu que guardei sentimentos...

Mas hoje eu cresci

E a maternidade me ensinou algumas coisas

Que antes não assimilava

Então eu te perdoei

E no peito te carreguei

Num poema de mãe!

Não me tornei a filha dos teus sonhos

Perdi-me nas minhas carências

Deixei que elas tomassem proporções

Maiores que a razão

Vivi para meu coração abandonado

Tentei preenche-lo de amor de pai e mãe

Num outro amor que me arrancasse essa dor,

Mas fracassei por não ser substituível...

Cometi tantos erros

Que agora sei entender

Dentro de mim ainda mora

Uma criança amedrontada

Que por vezes chora de carência

O amor virou para mim um precipício

Onde cai e não consigo voltar

Tenho medo de amar

Porque o amor para mim

Não teve alicerce

Construí meus castelos na areia

Procurei um príncipe

Que nunca existiu

Sonhei fantasias que nunca abracei

Muitas vezes quis tomar posse

Do que nunca foi meu

Por necessidade de amar e ser amada

Sofro o medo

De ter passado para os meus filhos

Minha frustração

E continuar uma amarga geração...

Mãe

Peço-te perdão por me sentir assim

Tenho-te como um exemplo de mãe

Apesar desse sentimento

Cheio de culpas

Que me afasta de ti

Para mim fostes sempre uma guerreira

Que no seu campo de batalha

Teve que matar seus leões

E ainda sobreviver para os teus filhos.

Meu amor

Talvez fique entalado em vida,

Mas sempre será um poema lindo de Mãe!

Te amo e te amarei para todo o sempre...

Em 22 de maio de 2009