No plano ideal
Vai tornando a noite dia, um a mais...
Apressada acorda a moça bela!
Ela espera que aquela carta esteja sob sua porta
E nela esteja uma ousada declaração de amor...
Ela sonha com a serenata sob sua janela e a linda rosa ao vento.
Aos poucos, a concepção do dia, luz do sol
Nada sob a porta, nenhuma serenata ao arrefecido luar...
É dia, acorda a moça bela com um dia a mais na vida
Sem ter sido amada uma vez mais
Começa seu cotidiano de solidão...
Lembra-se da serenata que não ouviu, da rosa que não se lhe ofertou
Não se sabe tão moça, não se vê tão bela
Ttem muito a cuidar e isso lhe subtrai o deleite da sedução...
E passa o dia e cai a noite
Um anjo a ela se apresenta...
Quer envolvê-la nesse mundo das nuvens
Ser-lhe o apaixonado dos sonhos
Faz-se poeta angelical, parte a enaltecer sua musa
Mas de tão distante...
Ela se sente menina outra vez, olhos d’água, sorriso adolescente
Nutre-se dessas momentâneas aparições angelicais
Ocupa-lhe o vazio ou quase, ela nem sabe nem se percebe.
Ele, de tão longe, assopra-lhe aos ouvidos a candura
Ele a vê mais bela, aprecia-lhe a alma e a ela conhece...
Mas abre as asas antes do beijo de amor, antes do aperto do abraço
Leva consigo a imagem de amor latente...
À moça bela só fica a privação daquela vigorosa presença
A expectativa de se sentir de novo menina, naqueles poucos instantes Lembranças do que sentiu sem ter tocado
O aroma adocicado no ambiente, os suspiros e palpitações...
A moça bela sente por ter que acordar adulta ao parto do dia
Por ter que abraçar o real e se perder do anjo encontrado
Voltar das nuvens e acordar de novo...
Ela sabe que um dia esse anjo não mais virá
Já viveu muitas histórias de amor,
Talvez nenhuma com um ser intocado como esse
Daí o medo de nunca libertar-se dessa imaginação
Tão procurada no universo real...
E aí a moça bela, que nem tanto acredita no amor
Nem é tão moça e nem tão bela...
vontade de chorar...