Retrato de Uma Mulher (quem é essa mulher?)

RETRATO DE UMA MULHER

(Quem é essa mulher?)

Quem é essa mulher

que com toda essa poemidade refletida na poesia do poeta,

sempre engravidada de sonhos a aguardar que no vai-e-vem da vida

lhe chegue pela maré do destino assim por dizer - uma magia completa,

o ideal, o terno, a mudança alquímica

- o verdadeiro amor: seu par cristalizado,

humanamente belo e alquimicamente transformado?

Quem é essa mulher de que fala o profeta,

que reza, sorri, espera e não cansa

e diuturnamente aguarda a felicidade

na estação da vida a desembarcar no trem da esperança?

Quem é essa mulher que também sofre, lamenta e chora,

e briga, xinga, pragueja e o manda embora,

que acha que achou a fórmula certa

apesar de deixar sempre a porta aberta?

Quem é essa mulher que clama por liberdade

embora não saiba definir o que sente,

e mesmo não mais presa a qualquer corrente,

ignora o que quer em verdade?

Quem é essa mulher que não sabe-se porque, sente-se confusa, solitária, vazia,

tudo atribui à TPM,

apesar do seu outro eu gritar que ama, que é feliz, realizada como fêmea?

Quem é essa mulher que,

quando distante, faz planos mirabolantes

renuncia a candura aparente,

descarta o seu eu dócil, amável, paciente

e se veste de cruel, fria, briguenta

e maldiz a vida com o seu par

se reconhece ardilosa e ciumenta

e não se perdoa pelo fato de tanto amar,

não se importando nem mesmo com a própria dor

mas quando o vê, desmancha-se toda em prazer

e corre e grita e beija e abraça

e sorri e canta e se enlaça

e faz mil juras de eterno amor?

Sei, não deveria ser assim,

mas quem conhece um pouco de você

sabe sim

que é você essa mulher.