Tomaste-me
Tomaste-me
Ao Ney José
Chegaste sorrateiro,
E sem maiores pretensões,
Pediu-me apenas um beijo,
Entreguei-o.
E com ele uma parte da mim,
Outros tantos beijos,
Carinhos e afagos,
Sussurros e abraços.
Te quis em meu leito,
Me enrosquei em seu peito,
Adormeci saciada,
Despertei te querendo.
Desejei-o por inteiro,
A boca, os olhos,
As mãos, os braços,
“Todas as partes,
As partes num todo”
Sentir seu membro em meu regaço,
Estremecer e gemer,
Sem receios ou pecados.
Então eis que invadiu-me de vez,
Plantaste em mim o seu ser,
Em meu ventre se fez vivo.
Crescia em minhas entranhas,
Fui seu abrigo e esconderijo,
Alimento e guardiã.
Mas por um tempo tão pequeno,
Alguns meses, alguns dias,
Tantas horas, tantas alegrias.
Vi meu corpo se transformar,
Assumir a forma de seu templo,
Arredondei-me e enchi-me de luz.
Abrigava uma vida,
Não só sua, nem somente minha,
Uma fusão de sintonia.
Os Deuses se admiraram,
A quiseram para si,
Sem permissão a levaram,
Tornou-a ninfa em outro espaço,
Não a vemos, nem ouvimos,
Só eu a sinto, a correr e a sorrir
Sem dores e sem medos.
Só amor, o fruto entre mim e ti.
E hoje, quanta ironia,
Eu te peço o beijo,
E você me nega,
Desejo nos lábios,
O sinto na face.
Marcou-me por dentro,
Me transformas-te,
Diz até logo
A alguém a quem tomas-te.