NÃO SABEM DE NÓS, MAS DESCONFIAM

”Desse jeito vão saber de nós dois/ Dessa nossa farra/ E será uma maldade voraz/ Pura hipocrisia/ Nossos corpos não conseguem ter paz/ Em uma distância/ Nossos olhos são dengosos demais/ Que não se consolam/ clamam fugazes/ Olhos que se entregam/ Olhos ilegais” (Vanessa da Mata, in “Ilegais”)

esse seu jeito

de me beijar quando chega

no canto da boca

com os lábios úmidos

deixando um pouco

do seu batom

do seu gosto

na minha língua

já dá nas vistas

e há quem diga ao pé de ouvido:

“aí tem”.

Quando você vem

no seu balanço gostoso

e de longe me acena

chegando em mim

antes mesmo de chegar

há quem note

e comente

tanta deferência

preferência

não sabem é certo

mas desconfiam.

Mal pensam que a gente

se conhece

bem mais que o aparente

e se aquece

se tece

e se trança mais que o normal

que a gente está louco

um pelo outro

e não é pouco

nossos corpos não mentem

o que sentimos.

A gente se resguarda

não abre guarda

não deixa que línguas ferinas

tenham o gosto de saber

do nosso gozo e deleite

do nosso íntimo

de dengo e prazer

não sabem

mas desconfiam

que a gente se afina muito

se desatina um tanto

se dá e se ganha

todo dia

e é só alegria o que nos toma