Soma, subtração e divisão

Seis anos atrás, num Centro Cultural sentamos,

sobre uma vida em comum,

mil planos traçamos...

Correria de comprar móveis,

loucura para escolher um lar,

dentre tantos imóveis.

Horas insônes pintando paredes,

colocando retratos,

juntando as roupas e os sapatos.

Escova de dente, pijamas e pentes,

manhas, manias, taras e fantasias.

Um pouco de cada,

muito da gente.

Hoje cá estamos, não somando,

estamos tentando subtrair dos escombros,

o que de bom conquistamos.

Um lar com cães, tv e porta-retratos,

Um violão ao lado da cama largado,

tantos outros aparelhos ligados.

E descubro arrasada que terei que dividir,

tudo que somamos...

Mas como calcular as vezes ditas: eu te amo,

Como saber exatamente quantas vezes nos amamos,

De mau humor ficamos,

Quantas e quantas vezes, tal qual crianças brincamos.

Paro, faço contas, faço multiplicações, divido,

subtraio e faço somas...

E a matemática que sempre fora tida como exata,

Em minha alma pertubada, tornou-se abstrata.

Sabe meu amado estranho,

é tão fácil dividir os bens materiais,

mas me diga, como dividir os nossos sonhos?

Ah, meu conhecido estranho,

que só na ausência alguém me apresenta,

que só quando falta é que desnuda esse véu,

me deixando fendas, frestas e um sabor de fel.

Dividir meu canto, dividir meu pranto,

dividir meu corpo, dividir meu todo...

E descobrir que você a quem me dei inteira,

é uma figura enigmática, longe de ser verdadeira.

Estranho eu assumo,

te procurei todos esses anos,

te perdi nos desencantos,

e hoje essa partilha, de duas vidas.

É uma tentativa, de me preservar de tantas feridas,

porque meu estranho, se insistir nessa proeza,

de te buscar e não te achar,

qualquer dia surpresa, é provavel que nem a mim,

eu consiga encontrar.

Princesa Lara
Enviado por Princesa Lara em 29/05/2006
Reeditado em 30/05/2006
Código do texto: T165613
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