Do rubro ao cinza
(A amaria ainda que a plena miséria de sentimento me roubasse a alma
E se partisse, em sua ausência, amaria a intuição da sua existência)
Mas quando (recuado)
Lhe pedi (contrariado)
Para abandonar minha vida
Não pronunciou protesto, não hasteou bandeiras
Quando partiu e quando lamentei em calado pranto
Quando não voltou e quando esfaqueei minha esperança
Quando procurei por sua essência e quando não a encontrei
Quando, na certeza de que não retornaria, amei mulheres pequenas preenchidas de meras massas sem seiva
Quando tive de engolir martírios a fim de livrar o meu espírito da ávida esquizofrenia do amor sem vida
Quando surpreendentemente regressou e quando, na tentativa de amar mais uma vez, falhou
Quando, à noite, invade-me o sonho, me tentado ao oferecer parte do cálice do mais rubro e intenso vinho
Quando toca em meu corpo proporcionando-me atroz delírio
Quando nosso sangue ferve em fogo brando e quando a tenho comigo por alguns instantes
Quando seu calor me embrutece os membros e quando seu beijo cala o meu receio
Quando desperto em desesperada ausência de seu cheiro e quando volto ao luto por sua negra falta
Quando permaneço aqui, reinventando o tempo
Quando a noite chega e traz-me sonhos
(Mas como tocar o que é mistério?)
Quando o rubro definha em cinza
Quando o vendaval converte-se em brisa
Eu fico aqui a te amar incrivelmente mais, amor desvairado
É nessa hora que eu te amo mais