O SABIÁ-LARANJEIRA

À que se me vai em gorjeios

Não por mim... Na minha casa,

Em gaiola bem talhada,

Um sabiá-laranjeira

Vive preso e faz morada.

Ele tem canto canoro,

Uma lindeza seu canto.

Porém, coitada da ave,

Faz de hiatos outro tanto.

Canta que canta, depois,

Por horas, larga a paisagem.

E eu sinto o fel da saudade,

Que o gorjeio é tua imagem.

Como punhal no meu peito,

Um silêncio tão cortante

Faz-me antever que tal pássaro

Capta o martírio do amante.

No cantar do passarinho,

Como que vejo o teu vulto

Num halo tão musical

Que me caio mais estulto.

Não por mim... Por tua ausência,

O sabiá-laranjeira,

Mesmo estando escravizado,

Traz-me tu, todinha, inteira!...

Fort., 04/07/2009.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 04/07/2009
Reeditado em 04/07/2009
Código do texto: T1682005
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