A Serpente e o Coração
Ai da serpente que em deserto
Sobre a areia quente, céu aberto
Rasteja, deslisa, faminta,
Até que já nada mais sinta
Sem do que se alimentar, enfraquece
E já sem força alguma, então, falesce.
És como meu peito que rasteja
Dia e noite, refrescado à cerveja
À procura de outro que o complete
E viva, então, a vida que se deve
Mas, como a serpente, em deserto
Já não vê tantas esperanças por perto.
Ai da serpente que em deserto
Fraqueja até que a morte seja certa
Ai do meu peito que noite e dia
Não cura a dor de tua agonia
E, se a serpente é hoje alimento ao gavião
Ai de mim, ser de outra isólida paixão.