Sonho com uma flor

Em lembrança do apóstolo Paulo

Sonhei que o sofrimento caía como as pétalas de uma flor

Como era bonita não me perturbei

No sono profundo pétalas perdiam forças aos poucos

Pouco também era o sofrimento que despertava.

Lembro que fiquei feliz e amaldiçoei os espinhos

Eles sempre foram mal vistos por nós, afinal estão na cabeça de Cristo

Estava voando nesse sonho quando finalmente senti uma pontada

Pensei nos espinhos do sofrimento

Olhei para cima.

A flor, antes tão bela e jovial, já não estava mais lá

Ela fugiu, murchou, desencantou...

Conseguiu plantar a ilusão e abandonou-me

Senti frio e olhei as pétalas que já partiam junto com o vento.

Mudei radicalmente e acho que chutei a parede

O sono ficou pesado e assustado agarrei todos os espinhos

Eles realmente eram dolorosos e deitaram morada em meu corpo

Desconfortável girei

Eles se adentraram um pouco mais

Optei pela quietude e passei a ter certeza de que eles ficariam por ali

Não mais me abandonariam

Os espinhos, os quais pareciam os maiores inimigos da pátria, eram meus companheiros

No avançar do sono eles já não eram os mesmos

Observei com compaixão

Feios e desengonçados estavam fadados a permanecer comigo

Agora tinha a certeza do sofrimento que é a vida.

As flores me enganaram tal como os amigos. Os espinhos! Não!

Sei que eles vão machucar, magoar, fazer sofrer e doer...

Tenho a certeza disso e da ciência da eterna e ansiosa permanência

O sono pesado foi ficando mais difícil, desajeitado, frio

Meus pés já doíam e as costas reclamavam de uma dor que desconhecia

Longe dos pensamentos eu continuava a subir pelo caule.

Pensei em chegar ao lugar da flor morta, mas não me foi permitido

Acordei! Suado e perturbado levantei.

Os sonhos são perigosos quando as flores morrem

Sacudido e desconfortável, mudei de ideia

Mais valem os espinhos,

Não obstante o desespero noturno eles não me abandonaram

A certeza do sofrimento talvez seja o que é permitido esperar

O acordar para a vida é doloroso

Definitivamente não desejo mais ser enganado pelas flores...

Nem por sonho.

Lúcio Alves de Barros (inverno de 2009)

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OS ESPINHOS DE PAULO

E para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: “a minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.

De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo” (2 Coríntios 12:7-9).