Madrigal Para Clarissa

Porque a poesia necessita de ti,

o amor, em mim, gritou teu nome:

três sílabas de luz,

três acordes de clarim e sal.

E o verso (o verso triste em desatino)

teve crises de ternura

e visões de anjo marinho.

O mar, que se vestiu de esmeraldas

e campanários submersos

para celebrar tua presença,

despedaçou-se em jade aflito...

Já de tarde percebi

toda solidão marinha

conspirando contra mim.

Há mar demais à tua espera

e a poesia ainda busca

as pegadas dos teus pés

no deserto das areias.

Hoje eu sei

porque o mar

sussurra desatinado

nas conchas abandonadas...

O mar, sem ti,

e apenas um território imensurável

de tristeza e solidão.

As gaivotas voam sem rumo

e, de repente, pousam em bando

sobre a tua ausência na areia.

Há apenas vento

e neblina, e maré-cheia.

A praia não é a mesma,

o mesmo mar não é o mesmo,

tudo em mim transcorre igual...

Não fosse a poesia gritar teu nome

nos meus versos

eu não saberia mais do verão

nem teria, no inverno,

uma lembrança boa

para acompanhar

o vinho, os sonhos...

Em toda aurora

eu tenho o mar junto à janela

e uma esperança desmedida.

Em todo ocaso

a névoa veste de noiva a solidão,

joga véus de seda fria na vidraça

e a vidraça, nublada,

chora lágrimas de sal.

O mar desconsolado

- O mar é todo amor -

cobriu com pérolas de espuma

tua ausência na areia...

O vento sul invade a solidão das noites

e vem gritar teu nome

nas folhas das casuarinas.

As ondas tingiram-se de óleo,

o sol perdeu o brilho,

a lua vestiu-se de seda gris...

Há um silêncio inconformado

sobre as dunas,

uma ressaca de saudade

na lembrança das manhãs.

O inverno será pleno

de tristeza e solidão.

Ah, estrela-do-mar,

o oceano sou eu!