QUANDO ESCREVIA PARA VOCÊ

Já escrevi cartas desiludidas

Poemas enormes que escaparam pelas bordas da folha

Rabiscos em papel de pão

Rostos desenhados nas noites de vinho e frio

Grafites reluzentes na caverna da ilusão

Ensaios sobre poetas de eras perdidas

Palavras aquáticas no ventre do rio

Que boiavam como rolhas

Mas com tanta amor só soube escrever

Quando escrevia pra você...

Escrevi em rodas de carroça

Que iam embora levando minhas palavras

E a mim só sobrava secas crostas

E o pó que se levantava e dançava na estrada...

Escrevi com fúria em ombros de estrelas

E pus poesias a rodar em anéis de Saturno

E bastava virar as costas para vê-las

Sumindo em túneis galáticos noturnos

Desenhando visões que nunca pude esquecer

Mas com tanto amor só soube escrever

Quando escrevia para você...

Os pássaros me perguntavam

O que eu possuía para poder trocar

Pela minha passagem até onde estavas

E eu lhes disse que possuía um cantar

Que pelos meus olhos escapavam

E num voo feliz te encontrava...

Talvez fosse o destino de repente perceber

Que com tanto amor só soube escrever

Quando escrevia para você.