PRO AMOR QUE VIRÁ

Que venha de riso largo,

sem pregas nos desejos,

sem rasgos no peito.

Que venha numa hora incerta e calada,

que tenha afagos para repousar minha dor,

que traga cheiros para despistar meus ardis.

Que saiba de cor minhas vértebras e requebros,

que tenha na manga o néctar que me trará de volta à vida,

que tenha no sangue o torpor descabelado das ninfas loucas.

Que seja cordial mesmo nas horas que eu rasgar sua fé,

que tenha luz mesmo quando os respingos forem cruéis sem pena,

que queira lutar mesmo quando o tempo não mais couber nem refletir.

Que nunca se baste de mim, embora eu sinta isso sempre,

que nunca queira afogar meus pulos de moleque, nem detonar essas fantasias soturnas de todos dias,

que seja capaz de se abrir toda só pra que eu entre e me deleite.

Só pra que eu entre e me deleite.

Por fim que entenda que podemos ser novamente unha e carne,

que ainda há caminho para irmos até onde der e quiser,

que ainda tem tempo pra gente ser feliz como num dias fomos,

lembra?

E que agora são flocos de saudade, caindo de bêbados dentro dos nossos dias frios, secos e imensamente sozinhos.

Volta pra mim, amor, volta.