A QUEM AMA

Amor é ver no escuro.

A pedra no caminho,

O alto muro,

A flor com espinho.

Poça que se salta,

Amor é perigosa mata.

Com feras lá dentro à solta,

Armadura rota.

Fogo que esquenta o ferro.

Teatro da verdadeira farsa pura,

Texto que mais não é do que um berro

Escrito por cego em noite mais escura.

Ai daquele ou daquela

Que por ele pula pela janela.

A maldição dos esbanjadores

Lhes será a maior de suas dores.

Amor é ciência sem explicação.

Máquinas inventadas foram tantas,

Por hereges, bandidos, almas santas,

Mas nenhuma como o coração.

Que por si só toma a rédea do destino.

Se mulher de alta idade, se tornará menina.

Se homem de vasta sapiência e seguro tino,

certamente ante o amor se tornará menino.

Assim é o amor.

A quem não ama, grama.

A quem ama, flor.