AMOR SECRETO
Queria dar-te meu coração.
Mas se o arrancasse do peito,
Quem o levaria até ti
Se morto estaria aqui,
Perfeito amante desnaturado,
Morto nesse instante sagrado?
Queria dar-te meu navio.
Mas o afundei quando a tua procura estava,
Invadi reinos e remotas plagas,
Sacrifiquei mil anos a fio,
Incitei marujos e clamei por sangue
Por saber-te escrava exangue
N'algum porão de castelo,
Arremeti proa e costado,
Canhões enferrujados,
Minha espada,
Meu cutelo.
Queria dar-te simples poesia.
Mas as palavras estão soltas nos campos,
Escorrem como lágrimas de prantos,
Se refugiaram atrás dos muros de lamentações,
São dóceis sob o sussurro de mantras e orações,
Andam em pés de pequenos homens perdidos em morros,
Se valem da própria voz quando pedem socorro,
Estão tesas e crispadas, solenes e desventuradas,
Apenas palavras caídas de algum dicionário.
Dou-te, então,
Mínima porção de verso,
Amorosos batimentos do coração,
Que entoam esse amor secreto.