Desejos

Inútil crer

se nos criamos máquinas

com terminais perfeitos

acariciados por mãos,

mãos do dever e do pavor...

Mesmo sendo impossível negar,

esse pavor (desejo de busca)

condensa-se no ar.

Erramos ao amar

se nos sabemos donos de corpos vacilando.

Aos trinta e poucos anos apenas tinta desbotando.

Insensato o cio

se nos queremos

e retesamos nossos músculos dia após dia.

Deixando nossas almas

esvaírem-se gota a gota numa pia.

Insano pensar

em nos dividir

para docemente somar

duas vontades.

Se na verdade

o que se traz dentro do peito

bate, bate até quebrar.

Volta em mim por um só instante

consciência perdida.

Vem, emparelha-te com o presente,

mesmo que seja somente um começo.

Deixa que o sol apareça em minha face,

que a terra se desfaça em risos

e estrondos de alegria.