Poema de uma rurícola (... ou "Um amor não correspondido de um cavalheiro")

Para ti dedico estes versos.

Sei que não vou saber rimar;

peço que não sejas perverso,

é nessas palavras que vou me expressar.

Uma longa jornada eu fiz

e nela pude te encontrar.

Não como um desenho no chão de giz,

mas num deserto um oásis desvendar.

O meu rosto cobri com um véu.

Apenas uma camponesa

coberta de minha fraqueza

num eterno e solitário carrossel.

Você com sua resplandecência,

cavaleiro de valores desmedidos.

Jurastes honrar e merecer os desvalidos.

Apaixonei-me pelo mistério de sua essência.

Amásio, afável, intrépido,

somente com outrem adepto.

Contigo minha maior vitória

é a doçura de nossas prosas.

Em verdade nos tornamos amigos

e como uma moa invenção, quero mais que isto.

Ornar o sentimento por um enigma

ou prezar o apreço e viver de ironia?

De certo a dúvida me abate

e não carece que evidencie que sou covarde.

O que posso fazer se não sou princesa

e seu olhar paira para as realezas?

Sou uma meretriz a recolher cada lápide tumular

que os que me julgam estão a atirar.

Com elas estou edificando o castelo

onde jamais se constituirá nosso elo.

Condenar-me-ei tua vida espreitar

e iludir-me desses sonhos de amor.

O mínimo da tua mão apertar

me dá conforto a sustentação dessa dor.

Ao que possas cogitar com estes vocábulos,

esta invenção não terminará virtuosamente.

Não que eu esteja querendo um futuro aparente,

estou extraviada nos espaços e horários.

Em breve estaremos separados

pelo infinito abismo da distância

onde tu serás meu eterno intocado

e eu terei definhado minha esperança.

Não é por este enredo ser conto de fadas

que terá um final ditoso.

Nada aqui foi venturoso,

nem ao menos o estar apaixonada.

Hoje resolvi parar de procurar as palavras certas;

sei que ele não vai, com elas, se importar.

Só tenho folhas velhas e acordes desafinados para te dar

e, talvez, não receberás isso de uma resoluta.

Recordar-se-á algum dia de minha subsistência

e manifestará mais um contentamento

por um prêmio de meu sofrimento,

de mais uma conquista de vossa excelência.

Eu continuarei vivenciando os dias

de minha finita vida mórbida,

sonhando que o seu amor por mim você inventaria.

Saiba que estarei morta pelo suplício que me afligia.