Todo Amor

Todo amor não é sentimento,

nem cheiro do mato, nem a negligência,

nem o pleno vigor da adolescência.

Todo amor é a incoerência.

Todo amor é um doce momento

que vem encharcado de mais sofrimento,

ou o sonho encantado que nos desespera

com aquele tamanho que a gente exagera.

Todo amor é como a espuma

que nos surpreende e nos desarruma

tal como o frescor do sabor desejado

quando o chuveiro não foi acionado.

Todo amor vem pintado de azul

verde, violeta ou cores fatais,

que quando chegam são tão irreais

que nunca mais pensamos no amor.

Todo amor é desengonçado,

vem se chegando despreocupado,

mas logo se espalha e mais abusado

inventa que nunca mais quer sair.

Todo amor é Nara ou Nair,

todo amor só quer se exibir

com tudo que o brilho puder garantir

porque consumir ele já conseguiu.

Todo amor tem vigor, energia,

ainda que seja somente de dia

porque de noite, o que ele seria

além de melhor e maior alegria?

Todo amor a fada fatura,

ainda que impura a pessoa não seja.

A fada do amor, o que ela deseja

é que a gente seja da vara o condão

Todo amor se concentra num vidro

que logo ingerimos de uma só vez,

pensando que o efeito seria instantâneo.

E vemos que sim, mas remédio não é.

Todo amor que a gente quiser

está acorrentado no hidrante da rua

ou dentro do barco atracado no porto

ou na loja em frente sobre o balcão.

Todo amor é serpente, é veneno

que, introduzido, transforma um pequeno

desejo de vida demais ou de menos

na espera da morte sem apelação.

Todo amor é o final da expressão

que resume a gente, é a combustão

que nos põe pra frente ou deixa na mão.

Sem ele é que não podemos ficar.

Todo amor..., se você não tiver

todo o amor de uma fada-mulher,

de alguém, de você ou de quem te quiser,

pague a despesa e vá procurar.