Por te amar tanto assim
Desmedida me acomete essa vontade de tudo falar-te,
despejar minha incontida emoção diante de teu existir...
És para mim o romance que ninguém ainda experimentou,
a beleza que se disfarça e me acomete,
o êxtase vivenciado em cada manifestação ao tempo...
Estás para mim reservado, enlace arranjado,
combinado entre o fascínio do universo e a etérea delonga...
E a espera é quem nos está preparando a cerimônia do amor,
assinalada solta numa parede imaculada,
erguida em endereço que ainda não nos é aquiescido conhecer...
E por mais que eu fale, há sempre o que dizer,
debulhar os desejos pequeninos que me abarcam acordada...
És para mim uma trilha complicada que dá em maravilhoso alvorecer,
aprazível meiguice que me embriaga os sentidos e as ilusões,
a cantiga que interage com meus versos e me cria os poemas que sou...
Moras comigo neste casebre que se intitula sonho
e nele convivemos dia e noite, mesmo que disso tu não saibas...
E te deitas comigo enamorado todas as noites, em qualquer das estações...
No fetiche do céu noturno enlaçados, juramos amor ao luar, às estrelas,
ao impiedoso tempo que não passa e não nos junta...
Ali tu me acordas de mansinho em cada madrugada,
propenso a dizer-me baixinho a sonora poesia que criaste para mim
e me afagas assim como artesão ao esboçar uma nova e delicada porcelana...
E me tens tua do amanhecer ao anoitecer, posto que também és meu
e se me procuras, achas sempre o meu vulto sob o teu...
Falar-te da emoção, do romance que amanhamos, da cerimônia da espera...
Falar-te dos desejos embriagados, da cantiga aos versos, do casebre em sonho...
Falar-te de nossos planos tão equânimes, do amor que nos inquieta e alimenta...
Falar-te do quanto possuídos e irresolutos somos um do outro na poesia que nos avizinha...
Falar-te nunca é muito, mesmo que falando pouco, falar-te é o que eu tenho...
É o que tenho nestes versos que a ti dedico por te amar tanto assim...