Em um dia qualquer...

Num dia qualquer,

Aqui, em Roma, Ankara ou Cabul,

Vejo-te nos olhos, te encontro no olhar.

Na Berlim dividida, nos divisamos.

Num dia qualquer,

Gente de rua, temporal, varre coração,

Beijo-te na face; te sinto nos lábios.

Invadem, transformam, mas a paz nós perseguimos.

Num dia qualquer,

Sem tempo, nem hora,

Esqueço-te um segundo, me lembro no seguinte.

Momento vivido é pérola guardada na arca do coração.

Num dia qualquer,

Sem rima, nem verso,

Miro-te, te quero nos braços.

Menina vem, dou-te o braço e a minha férrea vontade.

AjAraújo, escrito nos estertores da queda do muro de Berlim, em 1980.