Venha

Venha

Venha colher os beijos pendentes dos lábios

E lamber o inigualável sal das lágrimas secas

Venha colher-me a alegria brotada em sorrisos

E beber da água mansa de minha alma plena

Venha ver como te devoram meus olhos sedentos

E se refrescar na calma que é estar ao teu lado

Venha repousar nos meus braços

Fortes na medida do teu peso

Venha logo, pois a lua está revolta

Já cansada de girar no mesmo círculo

Venha já que tudo é só excesso

E não se pode mais viver a dor da falta

Venha, mas venha com a doçura da brisa

Que se inflama ao tocar meu corpo

Venha se apoiar no meu pilar de esperança

E semear a graça nos sepulcros do desânimo

Vamos percorrer os planos, penetrar os ventos

Para que sejas nau em minhas águas

Quero moldar-te como um vaso de barro

Que toma forma nas mãos hábeis de um oleiro

Quero ungir tua pele com óleo

Composto de sêmen, sangue e lágrimas

Venha, venha ser a madrugada dos meus dias

E a eternidade no meu tempo

Pois, na tua ausência, há só noite e tempestade

Enquanto a tua chegada é esse banho matinal

Vem sem medo, com todos os erros e defeitos

Pois eles completam minhas ociosas qualidades

É somente sobre mim que teus pés se enraízam

E somente comigo luzem raios dos teus olhos

Venha rasgar a neblina do lugar em que habito

Pois tens o poder de me salvar com um sorriso

Venha, pois és a única cura e esperança

E a flor que me deste já se despetala

(Djalma Silveira)