De humores e filosofias vãs

Li que todo imperecível seria só figura.

Entanto, ainda, só o simbólico é perene.

O natural transmuda até mesmo em nada

Não mentem os poetas e as cartas jamais

São pessoas, com sentimentos

Mesmo vãos, baldados, espezinhados

Desprezados, sendo apenas poesia

Que mais um homem seria amando

O amor da amada almejando

Ah! Por quanto ainda a rejeição!

Interpõem-se amargura, rancores

Elevam-se ao altar os dissabores

O feminino em mim é rebeldia

Pela diferença maior e analogia

Quer, sim, duma velha, a sabedoria

Denuncia o descrédito à inteligência

Ouve estrelas, como já ouvimos o mar

E são diversas falas as de amor

A nos dizer de alturas e profundidades

Amor igual pelo que há e se move

Pelo ar que nos inspira e alimenta

Não nos serve a natureza morta

Nem morrer por amar se ostenta

Mesmo o menor poeta acrescenta

Grande é a poesia, se há o poema

Verdade é o sonho que se realiza

Queiram não deuses e deusas

[se existam, em platitudes escuras]

Ama o sonho porque ama a amada

Nem menor, nem maior, só loucura

O coração o movimenta letal

Almeja modesta aspiração

Ama assim sem remissão

Não esmorece, inda sem fôlego,

De aspirar melhor porvir

Vem ele das profundezas do ser

Do sonho mais acalentado de amor

Não há alma pura nas possibilidades

Há vontades e responsabilidades

Sei de erros e dos lugares meus

Chamado duro e seco crustáceo

Ao lodo salgado comparado

De tudo do pântano a alma próxima.

Quer , sim, o homem ser amado

Julgando o poeta embaraçaram poema

poesia, os humores e a vã filosofia