Ainda há muito que sonhar

Pensei ter arribado minhas serras,

Já ter florido todo o meu jardim,

Esfalfado de tantas serrabaias,

Conhecido toda sorte de jasmim.

Sob uma couraça apouquei-me calculado,

Com o tempo nem saia mais da oca,

Parcos haveres, frugal, todo enleado,

Tornei-me vil, agoráfobo, bicho da toca.

Viver já não fazia mais sentido,

Cabisbaixo era assim como eu andava,

Demais pávido, absorto e demovido,

Em geral, eu mesmo me esfaimava.

Mas, prédica convicta não se perde, aurora,

E a minha sei que ouviu meu Bom-Pastor,

Eis que me acorrera de prece d’outrora,

Arrebatou-me ao teu seio o meu Senhor.

Agora a salvo, crente, venturoso,

Sob a destra de meu Pai podes me achar,

Distante do lúgubre pavoroso,

Ainda há muito que sonhar!

Eustáquio Leite
Enviado por Eustáquio Leite em 31/10/2009
Reeditado em 30/07/2011
Código do texto: T1897982
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