Que não deve chorar

Sou irmão das coisas que descrevo

Irmão desnaturado do tempo que não tenho

Da experiência que quero ter

Vejo-me perdido em palavras que nem sei o significado

Meu amor não me negue a tua presença

Conseguirá apenas minha expressão desesperada

Sei que o mundo é redondo e que não gira em torno de mim

Se existisse um planeta meu, seria apenas satélite teu

Ah, minha esposa me pergunta o que é poesia.

Sou carniceiro das noites que nem abro os olhos

E a noite vira um sonho, você é um sonho

Você é um sonho a noite é sonho também

E meus olhos castanhos fosco, faíscas, fumaça

Eu não tenho mais estrelas pra contar

Contar quantas são, como são

Cortá-la em várias, contá-las pelo talo

Colhê-las e as por em teu cabelo

Nos seus cabelos dourados que não brilham,

mas sempre me destroem em palavras

Ah minha esposa pergunta: Mor, o que é poesia?

Quando acordo, penso nos prédios e carros caros

Que se acomodam doutro lado da cidade

Passo você prum lado da minha vida

Onde te ver em uma despedida me cansa muito

Gosto de ver você chegar como se tivesse

problemas a resolver

Como se você fosse pessoa comum

E minha esposa diz: Ah, meu amor, o que é poesia?

Se a persiana da sala fosse minha

Esquece! Eu queria quebrar a luz

Pra te dar um fio de esperança

Mas, eu te vejo, teu rosto de criança

Que não deve chorar

Que não deveria nunca entristecer

Se chorar meu amor não me satisfaz

Minha loucura vira tédio

A minha esposa pergunta-me:

Amor, o que é poesia?

E mostro a tua foto a ela

Eis meu amor...

Ela dá com a mão no meu rosto.