Lenimento

Vasculharei minhas covas,

Acordarei meus defuntos,

Provocarei algumas sombras...

Ouçam-me zumbis:

Vasca é a minha vontade.

Hoje porei fim ao que me vermina:

- Aquela quenga me paga!

Se ela me foi pérfida, instantes,

De nós vivíveis, sequiar nem pude,

Talvez restara n’algum esquife,

Um saldo de amor que ainda seja nosso

E mereça da reles e pífia, a mesma sorte.

Grassem desígnios meus de extermínio

De toda e qualquer reminiscência dela.

Do fato encarnado de produção confiada,

Cuja insígnia eu reconheço, espiem,

Ainda lucilam os anelões doirados,

Enleados e presos àquele foteado,

Que vi menear negativamente,

Quando ela partiu, me deixou.

Retire-os, de tocado, a facote,

Não me doerá este último golpe,

Despedace-os, desdoire-os. Assim!

Em seguida, creste-os às cinzas,

Arremesse ao mar as sobras todas.

De lá, elevar-se-ão em Serafins.

Desenodoado,

Nada restará de nós,

Mesmo as lembranças

Do que jamais fomos!

Eustáquio Leite
Enviado por Eustáquio Leite em 02/11/2009
Reeditado em 14/01/2012
Código do texto: T1901000
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