APELO
Ah, Deus,
Como me incomoda, me destrói,
Tantas dúvidas e incertezas!
Como reatar as cordas da paixão,
Confiar em quem meu passado maltratou,
Por um solitário exercício de amar?
Senhor,
Cegai a luz de meus olhos,
Tirai-me do tato os sentidos,
Da boca calai-me os gemidos,
Tolhei o som das loucas mentiras,
Abandonai-me em constante padecimento,
Arrancai-me do peito este amor.
Que cega, muda, surda, insana,
Eu vague por vales escuros e frios
Até realizar de forma convicta
Que de tanto sofrer a alma se esgota,
Que nos desencontros da vida
A razão está para sempre perdida.
Mas, Senhor,
Se piedade ainda se consinta,
Assoprai-me suave esperança,
Uma pequena fagulha de vida,
Devolvei-me a carícia
Por tanto tempo esquecida.