Caráter absoluto do amor

Oh, esta porção corrupta d’amor,

Que fere o peito, sangra n’alma, causa dor,

Outrora o vivi casto, diligente e singular.

Ora besuntado feito ortóptero em azeite,

Sob voragem, ofuscado em seu deleite,

Não vê o fado que já teima ensejar.

Infame: nesta conduta estou convencido,

Seu fulgor não restaurar, ser convalido,

Dentro em pouco confiarei seu ataúde.

A termo torne-se desarrazoado!

Urge o tempo, entenda-o já ultimado.

Desiluso: porquanto estás tão rude?

Acho-me vezes igualmente tribulado,

A esmo derribo afogo inopinado,

Só vejo a rixa, esqueço o porvir.

Creia: sempre é garantida a bonança,

Àquele em que é verde a esperança,

Sabe após contendas o que há de vir.

Reflua terminante àquele amor,

Dantes cálido, fremente, sem pudor,

Engolfe-se num mar de gozo terno.

Por que o ódio se sua estrita condição é amar,

Gerar dor se é próprio de ti sarar?

Erga-se, pois... Aceite seu estado eterno!

Eustáquio Leite
Enviado por Eustáquio Leite em 26/11/2009
Reeditado em 14/05/2012
Código do texto: T1945047
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