Caráter absoluto do amor
Oh, esta porção corrupta d’amor,
Que fere o peito, sangra n’alma, causa dor,
Outrora o vivi casto, diligente e singular.
Ora besuntado feito ortóptero em azeite,
Sob voragem, ofuscado em seu deleite,
Não vê o fado que já teima ensejar.
Infame: nesta conduta estou convencido,
Seu fulgor não restaurar, ser convalido,
Dentro em pouco confiarei seu ataúde.
A termo torne-se desarrazoado!
Urge o tempo, entenda-o já ultimado.
Desiluso: porquanto estás tão rude?
Acho-me vezes igualmente tribulado,
A esmo derribo afogo inopinado,
Só vejo a rixa, esqueço o porvir.
Creia: sempre é garantida a bonança,
Àquele em que é verde a esperança,
Sabe após contendas o que há de vir.
Reflua terminante àquele amor,
Dantes cálido, fremente, sem pudor,
Engolfe-se num mar de gozo terno.
Por que o ódio se sua estrita condição é amar,
Gerar dor se é próprio de ti sarar?
Erga-se, pois... Aceite seu estado eterno!