Cale-se
Cale-se.
É preciso que me ouças.
No dia em que me negaste
expus minh’alma a todos os ventos,
a todos os versos.
Desde então nada há que não me seja nocivo.
Que não me enlouqueça.
Todos os infelizes e miseráveis,
entre homens e deuses,
tiveram em mim a sua desforra.
No dia em que me negaste a sua cumplicidade,
a cada respirar senti náusea.
Não suportei o silêncio,
nem o ruído descabido de meu coração a bater,
irritantemente.
Não suportei a razão.
Não suportei sentir ou enxergar.
No dia em que, despretensiosamente,
deixou que minhas lágrimas despencassem no vazio,
eu me mantive submerso.
A cada amanhecer tive uma treva.
A cada chão que piso, um inferno.
Desde que me negaste a sua boca
tenho a cada movimento uma chaga;
a cada pensamento uma morte.
FSR/2001