Cale-se

Cale-se.

É preciso que me ouças.

No dia em que me negaste

expus minh’alma a todos os ventos,

a todos os versos.

Desde então nada há que não me seja nocivo.

Que não me enlouqueça.

Todos os infelizes e miseráveis,

entre homens e deuses,

tiveram em mim a sua desforra.

No dia em que me negaste a sua cumplicidade,

a cada respirar senti náusea.

Não suportei o silêncio,

nem o ruído descabido de meu coração a bater,

irritantemente.

Não suportei a razão.

Não suportei sentir ou enxergar.

No dia em que, despretensiosamente,

deixou que minhas lágrimas despencassem no vazio,

eu me mantive submerso.

A cada amanhecer tive uma treva.

A cada chão que piso, um inferno.

Desde que me negaste a sua boca

tenho a cada movimento uma chaga;

a cada pensamento uma morte.

FSR/2001

Fabricio Ramos
Enviado por Fabricio Ramos em 21/07/2006
Código do texto: T198930