DESCOMPASSO


Num repente tudo emudeceu...
Palavras destoam do contexto
e adejam perdidas nos tons
da valsa  de partida.
O silêncio venceu...

 

A luz apagou e respingam no ar
salsada de aromas gélidos da saudade.
Na penumbra a se avistar
vultos afastados,
da consonância isolados.

 

Na dança da vida faltou harmonia...
Corpos sem sintonia, mãos vazias...
Dissonâncias de sentimentos
agitam os pensamentos em desalinho,
os passos perdem o compasso.

 

Num período exato, o cultivo inexato
da semente do amor.
Plantei flor, brotou espinho...
Só o vento baila lá fora
e sopra sons estranhos na noite silente...

 

Perdida doce magia
mesclada de solidão e agonia...
No rodopiar do tempo
o afeto se fez terra deserta,
um chão frígido e infértil. 

 

No coração bailam inertes
emoções trincadas,
no intricado descompasso
do desatar dos laços...

 

Falseou o conforto do abraço,
restou a partitura inacabada
de um sonho desafinado...
Em acordes lentos, lágrimas desabam
em notas dissonantes de desabafo...

 

 

2006

Anna Peralva
Enviado por Anna Peralva em 22/07/2006
Reeditado em 25/06/2011
Código do texto: T199518