Delírios Ilícitos
Lílian Maial


E então fomos presos,
algemados, tesos, os dois,
sem remorsos e sem vergonhas,
cheios de sortilégios e artimanhas,
descobrindo, no cárcere, o desafio,
encobrindo as marcas da tosquia,
as sequelas mundanas das noites de crime...

Criminosos de roubar beijos,
Furtar corações, assaltar o espírito,
Prender a respiração,
Sequestrar o amor
E se entregar à paixão...

Dois criminosos tesos,
Na chuva, molhados,
Afogados em delírios
E viagens espirais,
Em suspiros siderais,
Em torturas animais,
Mergulhados nos cheiros,
Nos gostos,
Nos rostos contorcidos,
Nos lábios umidecidos,
Nos dedos adormecidos,
Enlouquecidos de carne,
Enternecidos de olhares,
Irremediavelmente atados,
Tarados, tentados,
Sentados em tapetes de pele,
Ligados pelo destino,
Pelo desatino,
Pelos caminhos escuros,
Pelas vielas, favelas,
Castelos de areia.

Na veia, o alucinógeno
mais potente de todos,
mais poderoso, gostoso,
impiedoso, insinuante,
vicioso, viciante:
você!
 

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*imagem Kurt-van-Wagner