Homenagem póstuma a um amor
Tenra idade e já parte este amor...
Pereceu apesar da ternura, do apego, das promissões
E eu o vejo seguindo no cortejo que segue rumo ao horizonte...
Segue belo como veio, pálido pela infusa enfermidade
Puro, totalmente angelical, incólume sentimento que nascera
Singular, posto não ter envelhecido e, assim, jovem falece.
Ao coração resta a conformada viuvez
Esta que persegue as ladeiras por onde acompanho o adeus final...
À espreita uma canção, melodia dissipando-se pelo ar
Por certo a mesma que dourou de calor as sensações de outrora
Hoje menos fervente, avassalada pela indolência do momento que restou
Em desatino, imprópria, inócua, tenta refazer, inglória, antigas emoções...
Ainda se pode inaugurar alguma inadvertida lágrima
a banhar a sonhadora veste azul do perdido amor...
Urge-me homenagear o nobre sentimento que morreu nem sei por que razão...
Entendo que se esfriou como quem perdeu o sol e não mais se iluminou
e tudo isso antes, bem antes da sobrevida que lhe dei
Sobrevida cronometrada quanto durasse a vida...
A este ser extinto, instituidor de rico legado nem mesmo imaginado
Presto sentidas condolências, ele que fora concebido com nuances de eterno
Crescera rápido e curara duras feridas d’um coração adormecido
Traduzindo alegrias insondáveis e indescritíveis...
Ele que se fez de risos fortuitos e imagens de tão longe transpostas
caminha, doravante, em busca de medonhas e encantadas reencarnações
Se é que é possível vida após o fim de um amor.