O velho da morte a sorrir - plena velhice
Os pés já não têm a firmeza
O aperto de mão mais fraco está
A vista, turva, pouco enxerga a beleza
Só a lembrança renova o brilho no olhar
A memória falha em tantos instantes
Fere-me os ouvidos gritos a ouvir
Sou velho, calado, caminho vacilante
Mas quero ainda da vida sorrir
Tenho saudade de mim
Da criança buliçosa, de bola a brincar
Da mãe carinhosa, do abraço sem fim
Onde o beijo era a cura dos males enfim
Tenho saudade de nós
Nossa moça história de amor
Encontros furtivos, mãos a se unir
E mais uma vez, da vida sorrir
Desculpai esta face de rugas presentes
São cicatrizes de anos producentes
Dói-me saber de todos a indiferença
Ao julgarem-me incapaz, terrível doença
Dói-me sua condenação velada
A mostrar-me " És fantasma vazio do nada".
Porém há algo que o tempo não retira:
A força do sorriso que em minh alma respira
Na hora da partida iminente
Sabedor que sou do caminho finito
Saio da escuridão, em direção a luz
Que meu espírito manso seduz
Ando trôpego, curvado, porém crente
Com a certeza de quem viveu plenamente
Deixarei-me ser guiado em paz
Sonharei memórias de sorrisos vários
Seguirei calmo, um tanto cansado
Mas meus últimos suspiros serão a mostrar
Que dessa vida só se leva o Amar:
E é este que vos fala, a quem quiser ouvir:
O velho que até da morte sorri.