Triângulo amoroso latente

Soneto I

Esse espectro mudo e ciumento,

Achou conveniente me abjurar,

Como se fosse me exortar

Negando-me um cumprimento!

Era meu amigo, ao menos em parte,

E agora ojeriza minha existência,

Por causa de uma fútil carência,

Contra mim faz um disparate.

Talvez tenhamos a mesma garota em mente,

Pois seu semblante não mente

Quando estou do lado dela...

E eu sou para ele um empecilho,

Ameaçando tirá-lo o brilho,

Com o qual ele ainda apela...

Soneto II

Teu gênio complexo me assusta!...

E esse olhar psicótico meio morto

Que me captura meio torto,

Um repúdio por mim avulta.

Olhar frio como uma lâmina,

Que anseia me repicar o riso,

E quando o cabelo com a mão eu aliso,

Sei que por dentro ele fulmina...

Não compreendo por que se sente,

Ameaçado, pois nada do que eu invente,

Pode usurpar o seu quinhão.

Não vim para roubar a amizade

Alheia, nem tenho tal potestade

Para alienar de outrem, o coração.

Soneto III

Se tu fostes relutante ou remisso,

Não é da minha incumbência,

Desvendar essa tua essência,

Que te faz persistir nisso.

Se tu fostes lastimável e lacrimogêneo

Por ela, e ainda assim seja,

Nem pense que eu também esteja,

Entorpecendo dessa forma meu gênio.

Da anemia do meu ser esquisito

Às vezes fico por ti contrito...

Pois acho que fiz mais do que em fazer tu pensaste.

Talvez onde eu acho que fiz pouco,

Foi onde você tropeçou e ficou rouco,

Sendo eu bem mais do que tu julgaste...

Marcos Paulo Silva
Enviado por Marcos Paulo Silva em 21/02/2010
Código do texto: T2098735
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