Triângulo amoroso latente
Soneto I
Esse espectro mudo e ciumento,
Achou conveniente me abjurar,
Como se fosse me exortar
Negando-me um cumprimento!
Era meu amigo, ao menos em parte,
E agora ojeriza minha existência,
Por causa de uma fútil carência,
Contra mim faz um disparate.
Talvez tenhamos a mesma garota em mente,
Pois seu semblante não mente
Quando estou do lado dela...
E eu sou para ele um empecilho,
Ameaçando tirá-lo o brilho,
Com o qual ele ainda apela...
Soneto II
Teu gênio complexo me assusta!...
E esse olhar psicótico meio morto
Que me captura meio torto,
Um repúdio por mim avulta.
Olhar frio como uma lâmina,
Que anseia me repicar o riso,
E quando o cabelo com a mão eu aliso,
Sei que por dentro ele fulmina...
Não compreendo por que se sente,
Ameaçado, pois nada do que eu invente,
Pode usurpar o seu quinhão.
Não vim para roubar a amizade
Alheia, nem tenho tal potestade
Para alienar de outrem, o coração.
Soneto III
Se tu fostes relutante ou remisso,
Não é da minha incumbência,
Desvendar essa tua essência,
Que te faz persistir nisso.
Se tu fostes lastimável e lacrimogêneo
Por ela, e ainda assim seja,
Nem pense que eu também esteja,
Entorpecendo dessa forma meu gênio.
Da anemia do meu ser esquisito
Às vezes fico por ti contrito...
Pois acho que fiz mais do que em fazer tu pensaste.
Talvez onde eu acho que fiz pouco,
Foi onde você tropeçou e ficou rouco,
Sendo eu bem mais do que tu julgaste...