O enigma da esfinge

Soneto I

Teu olhar é tão lânguido...

E as pálpebras lhe parecem pesadas,

Sem dúvida aterra como facadas

O pesar que vem te seguindo.

Fechada num silêncio impermeável,

Você por um instante,

E como Davi que derrubou o gigante,

Faz-se forte ao invés de lamentável.

Mas às vezes você também tropeça,

E mesmo que tua frieza emocional impeça,

Há momentos em que chora.

Rezo para que seja sobrevivente,

Dessa agonia pontiaguda e latente

Que hoje no teu peito mora.

Soneto II

Tu me fazes degustar as emoções

Numa intensidade férvida,

Que agora que ateia um explosivo amor a vida!

E outrora um calvário de lamentações...

Para ser digno de teu amor,

Tenho que enfrentar fantasmas,

Exorcizar demônios, tirar as escamas

Do meu coração e ressuscitar meu ardor.

Só que tua nebulosidade oscilante,

Me fez sobre teu incessante

Temperamento, formular minha teoria.

Foi com medo de um delírio eufórico,

Que reduzi a um processo lógico,

Tudo o que por ti sentia...

Soneto III

Queria resolver teu quebra-cabeça,

Alegrar teu semblante incerto,

Atravessar contigo esse deserto,

E chutar as pedras em que tropeça.

Invocarei forças inanimadas

Para te servir de alavanca,

Quero ser a gaze que estanca

Tuas feridas infeccionadas.

Não me peça para desistir,

Pois é difícil resistir

A idéia de te perder.

Agora que compreendo teu drama,

Não queria vê-la afundar nessa lama,

Unicamente por não lhe entender.

Soneto IV

No cinéreo dos meus pensamentos,

Fiz juízo aos meus temores,

E dispersei aqueles rumores

De um futuro desalento.

Talvez eu precise escalar precipícios

Para vê-la sorrir em meus braços

Outra vez, com seus alegres traços,

Pois ver seu sorriso é um de meus vícios.

Qualquer esforço por alguém amável,

Deve ser de grandeza imensurável,

Senão facilmente desvanece...

Mesmo sem resultados, eu insisto!

Pois todas as vezes que não desisto

Algo de bom sempre acontece...

Soneto V

Depois de violar a lei da entropia,

E juntar os meus fragmentos,

Não precisei de mais alentos

Pois curei minha miopia.

Quando a insegurança acampava em mim,

Desperdiçei muitas chances,

E só agora meus nos meus alcances,

Rompi a força centrípeta que me aprisionava.

Não havia me esforçado o suficiente,

Apenas tentei ser onisciente,

Insultando os seus motivos...

Nunca mais usarei apriorismos,

Nem regras de três nem silogismos,

Para prevê-la por meios especulativos.

Soneto VI

Há tempos você resolveu sumir...

Os dias ficaram compridos,

E teu beijo era um dos comprimidos

Que me ajudavam a dormir.

Sinto falta do teu jeito esquisito

De amar sem dar evidências,

Você sabe, foram nossas displicências,

Que me deixou tão aflito.

Você saiu e apagou a luz,

E sem querer esse escuro me conduz

Para acordar num quarto espelhado.

Lá eu pude ver nossos defeitos...

E reavaliar os teus preceitos,

Que minha sensatez já havia condenado.

Marcos Paulo Silva
Enviado por Marcos Paulo Silva em 26/02/2010
Código do texto: T2108781
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