Lembranças De Antanho!

É com pesar e com insatisfação

Que hoje venho aqui, até a ti,

Trazendo nas mãos meu coração.

Dê-me tuas mãos. Sentemos ali

Embaixo da antiga laranjeira

Onde em tempos de antanho

Passávamos a tarde inteira

Contemplando a natureza

Nos amando, nos amando...

Parecia-me que mais verde era

A relva do chão e os arvoredos.

Que as flores das ramas e ervas

Eram mais brancas e boninas,

Que o horizonte era mais vermelho

E que quando chegava a primavera,

Descerrando dos céus as cortinas,

Viam-se as violetas da Sibéria

O vale em papoulas da Índia

Em disputa desigual e ferina

Com os milhares de girassóis

Que circundavam lagoas argentinas

Nascidas das cascatas de águas prateadas

Que sussurravam sustenidos e bemóis.

Ali, onde o vento refrigerante em viagem,

Que lhe consome as forças e o ano inteiro,

Vinha balouçar em um balé bom e suave

As folhagens das samambaias e coqueiros,

Em redemoinhos pelas fartas ramagens,

Depois em toques divinos em teus cabelos,

Brincando com novelos e cachos aloirados

Que caíam pelas omoplatas encobrindo

As aureolas rosadas dos níveos seios.

Agora, tanto tempo passado, nada resta.

Apenas vestígios de uma época de festa.

Apenas essas lembranças de antanho

Tecidas em titânicas e delgadas redes

Tais quais quadros em esquisitas paredes

Tatuadas num mundo de sonhos.

Gil Ferrys
Enviado por Gil Ferrys em 16/03/2010
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