Platonicamente doendo
Se o meu querer é o teu
Se meu tudo é você em mim
Esqueço-me de quem sou eu
A outra te faço desejo carmim
Faz-me teu dono e seu
Não brinda comigo
Faz de conta sermos amigos
Não responde às minhas perguntas
Esconde tuas lágrimas por cair
Ignora meus zelos e apelos
Finge que não me quer
Ouve a música errada
Lê o livro que guardei para nunca ler
Recita o poema que odeio
Desmente o que não falei
Ata ainda mais os nossos nós
Ilude-me com um charuto apagado
Derrama o absinto que te servi
Ainda assim te guardo
Cuido de seu sono pequeno
Passeio os olhos no seu corpo seda
Sofro na saudade que irei sentir
Pois só eu sei que te quero assim
Sofrer por si sofrendo
Amor por você querendo
Gostar d'alma remoendo
Tudo isso me faz triste e sereno
Sentimento platônico quase irônico
Escrito num tratado de amor perdido
Que me aquece nos fins de tarde lacônicos.