Ecos da Saudade

Às vezes eu penso que já não posso suportar

E que meu lugar está além desse mundo

Não me encontro em tantos olhares

Que me passam líquidos, vazados e nem sempre me vêm

O meu, já tão duramente sólido e marcado,

tornou-se insólito à minha condição

de seguir sem ter para onde ir,

se não ouço nem sinto seu hálito

Não quero fazer drama, cena, representação

Mas, você não entende que nunca foi falta de amar

Teria coragem! Toda desse mundo indissoluto

Tivesse você me estendido seus olhos brandos, macios...

Rios paralelos, justapostos seguindo

silenciosos para o mar esperançoso

Teria alçado qualquer vôo, voaria sobre as suas asas

Veria com seus olhos e não era posse e sim uma junção

E quando nos derretêssemos, perto do sol

Tornaria seu abraço a minha cura

a cura da minha carne candente de você

Desfazendo-me em suor. Querer. Tua boca. Minha tez

Ah e nesse lânguido delírio, morreria sem pressa

dessa existência vácua de agora

Mas ora, minhas lágrimas tornaram-se encarnadas,

encantadas de razão nula

E eu que nem tinha provado disso, precipício que não passa

Onde não tenho graça de coisa qualquer ou alguma

Faço-me de forte, me faço de gente. Rio sofregamente

Mas, não tenho como explicar esse vazio

Que por vezes me é frio, febre, falta de fome

Coisa que me falha até o nome na memória

É essa falta que você me dá, desse algo além das músicas,

Além do ar suprimento vida

Quando meus olhos se abrissem, eu teria sido sua, por tantas luas

Que você nem se lembraria. Bastava você me amar

Tocar-me pelos cabelos e me olhasse no avesso

E notasse que estremeço ao menor sinal de você

E antes de tocar meu corpo úmido e reluzente, adornasse a minha alma

Com toda calma que eu preciso, no seu colo, com teu olhar ocioso

Que aninhasse-me no seu peito

um leito macio e quente... transparente

Enquanto a noite não fosse passada

E quando já fosse madrugada, repousados e em silêncio

Enlaçasse os meus, nos seus dedos, certeza

Que me convencesse que não haveria medo

Que o amor não desse conta de reparar

E a lua tão curiosa e enrubescida, deixaria de olhar a vidraça

e nos espiar sorrateira.

AndreaCristina Lopes
Enviado por AndreaCristina Lopes em 02/04/2010
Reeditado em 23/11/2010
Código do texto: T2172490
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