Ecos da Saudade
Às vezes eu penso que já não posso suportar
E que meu lugar está além desse mundo
Não me encontro em tantos olhares
Que me passam líquidos, vazados e nem sempre me vêm
O meu, já tão duramente sólido e marcado,
tornou-se insólito à minha condição
de seguir sem ter para onde ir,
se não ouço nem sinto seu hálito
Não quero fazer drama, cena, representação
Mas, você não entende que nunca foi falta de amar
Teria coragem! Toda desse mundo indissoluto
Tivesse você me estendido seus olhos brandos, macios...
Rios paralelos, justapostos seguindo
silenciosos para o mar esperançoso
Teria alçado qualquer vôo, voaria sobre as suas asas
Veria com seus olhos e não era posse e sim uma junção
E quando nos derretêssemos, perto do sol
Tornaria seu abraço a minha cura
a cura da minha carne candente de você
Desfazendo-me em suor. Querer. Tua boca. Minha tez
Ah e nesse lânguido delírio, morreria sem pressa
dessa existência vácua de agora
Mas ora, minhas lágrimas tornaram-se encarnadas,
encantadas de razão nula
E eu que nem tinha provado disso, precipício que não passa
Onde não tenho graça de coisa qualquer ou alguma
Faço-me de forte, me faço de gente. Rio sofregamente
Mas, não tenho como explicar esse vazio
Que por vezes me é frio, febre, falta de fome
Coisa que me falha até o nome na memória
É essa falta que você me dá, desse algo além das músicas,
Além do ar suprimento vida
Quando meus olhos se abrissem, eu teria sido sua, por tantas luas
Que você nem se lembraria. Bastava você me amar
Tocar-me pelos cabelos e me olhasse no avesso
E notasse que estremeço ao menor sinal de você
E antes de tocar meu corpo úmido e reluzente, adornasse a minha alma
Com toda calma que eu preciso, no seu colo, com teu olhar ocioso
Que aninhasse-me no seu peito
um leito macio e quente... transparente
Enquanto a noite não fosse passada
E quando já fosse madrugada, repousados e em silêncio
Enlaçasse os meus, nos seus dedos, certeza
Que me convencesse que não haveria medo
Que o amor não desse conta de reparar
E a lua tão curiosa e enrubescida, deixaria de olhar a vidraça
e nos espiar sorrateira.