EU TE AMO!!!!!

Ainda vê-se o finalizar da tarde

Na paisagem de pedra da cidade grande.

Um último pássaro faz alarde

Mesmo que outros, o silenciar, comande.

Virá a noite e com ela o abandono da luz

A descolorir a penugem cinzenta

Do céu que, poluído, ainda reluz

Na grande cidade barulhenta.

Na cadência sistemática da troca

Um observador atento à cena

Desenha em uma tela o que se desloca

Para o escuro da noite serena.

Há um trocar das estações...

(Da percepção, aos olhos, sensível

Para as secretas revelações

De um mundo imprevisível).

Um aquietar começa a agir

Na sensação visual, logo, dormente;

O quadro passa também a interagir

Com os delírios que o pintor sente.

A saudade substitui, aos poucos, o grito

Na cidade grande; na cena se introduz,

Em um supremo e profundo rito,

A lembrança da mulher que o seduz.

Misturam-se a sombra, a vaga idéia,

O delírio, o toque no ar, a quase noite,

O perfume perdido de uma azaléia,

A alma que alumia um açoite.

De repente: os dois cenários pintados terminam...

A desenhar uma outra paisagem,

Que real e inconsciente determinam

Como fiel ao que quis imaginária viagem.

Tanto que, ao findar da inspiração,

Sem querer uma forma realça-se com beleza;

Sem querer, no quadro, provoca transformação.

Da bagunça das imagens, surge: a realeza.

-- Na forma de um vulto belo se agiganta. --

Sem querer "Eu" que sou este pintor a chamo.

Em um grito de força e magia tanta

Sem querer declamo: Eu Te Amo!!!!!

E o escuro na grande cidade já faz-se pleno:

No silêncio do pássaro; no quadro, agora, sem luz.

E o delírio imaginário torna-se terreno:

Nesse vulto que à miragem bela me conduz...

(Alexandre Tambelli para Carla, São Paulo, 16 de dezembro de 2003, 22:15h)